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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Da gravidez, do Aborto Retido e Da maternidade

Por algum motivo, desde que descobri que abortos espontâneos existiam, eu tinha medo de um dia sofrer um aborto. Minha mãe tinha sofrido um entre meu irmão e eu e, por algum motivo eu lembro de saber disso razoavelmente cedo. E, por algum motivo eu também lembro de temer que o mesmo acontecesse um dia comigo.
O tempo passou, o desejo de ser mãe veio e foi. Já tinha decidido que eu seria uma daquelas pessoas que viveria bem sem procriar. Tinha passado por um relacionamento mal sucedido de alguns anos que tinha me rendido a certeza de que não existia ninguém digno de me tirar da solteirisse que eu tanto estava curtindo, nem de ser pai dos meus filhos. Nenhuma arrogância nisso, apenas uma constatação da decepção inerente a todos os relacionamentos.
E aí, como a vida adora nos fazer surpresas, acabei conhecendo uma pessoa ultra especial que acabou me levando a acreditar que nem todos os homens do mundo eram absolutos canalhas. Passado um tempo e uma enorme perda na família, algumas conversas sobre a continuidade da vida e o significado de passar por aqui sem deixar rastros, acabamos decidindo que era hora de reproduzir.
Imediatamente partimos para as tentativas. Mandamos a pílula para o espaço e calculamos que, dada a idade de ambos (eu com 34, ele com 43), provavelmente demoraríamos um pouco para conseguir o feito. No mês seguinte fiz meu primeiro pipi no palitinho e recebi minhas premiadas listrinhas! Nós nem podíamos acreditar... seríamos pais!
A felicidade durou pouco. Já na primeira ultra, com 7 semanas, o coração estava MUITO discreto... e o outro saco gestacional estava vazio (sim, porque a mira foi tão boa que a gestação era de gêmeos!). Duas semanas mais tarde o Bhgc começou a cair e lá fui eu para a primeira AMIU.
Choro, sofrimento, e uma única certeza: tentaríamos de novo, e LOGO!
Com o aval do meu GO, um ciclo mais tarde lá fomos nós tentar de novo. E dois ciclos mais tarde (e uns 25 pipis no palitinho mais tarde, porque eu fazia o teste caseiro quase que diariamente só de ansiedade!) minhas listrinhas voltaram a aparecer no palitinho!
Dessa vez, ainda que o trauma e o medo estivessem presentes, eu tinha a certeza de que ia dar tudo certo, eu acreditava que dois raios nunca cairiam na mesma árvore. E, quando, na primeira ultra, com 7 semanas, vi aquele coraçãozinho disparado, tive a certeza de que tudo estava certo.
Gravidez perfeita, parto assustado, mas também muito lindo, filha maravihosa. E a noção de que ela seria filha única, afinal, filho é um briquedo caro a beça.
Mas, tudo muda, sempre, e, 2 anos e meio mais tarde começamos a sentir saudades de ter um bebê em casa. Dúvidas foram colocadas de lado quando tivemos a notícia de que meu marido estava com um problema de saúde grave. Tínhamos a certeza de que não queríamos Alice como filha única. E, contentes, colocamos de lado os bloqueios e partimos para a fabricação do nosso segundinho!
Um mês mais tarde lá estavam minhas listrinhas! Alegria absoluta, felicidade sem limites... na primeira ultra, com 6 semanas, nada de coração batendo. Choros, lágrimas, abatimento geral, teorias variadas sobre a causa, mais um AMIU. Nova tentativa. 3 meses após o AMIU, nova gravidez, novamente gemelar. Novamente, na hora da primeira ultra, dessa vez já morrendo de medo, dois corações muito fraquinhos. Dessa vez, como acabamos tendo que esperar um pouco mais para a constatação do aborto (os embriões continuaram com discretos batimentos por mais 2 ou 3 semanas), acabei tendo aborto completo, sem necessidade de inervenções. Mas, sou teimosa, não desisto fácil. Dois meses mais tarde eu já estava grávida de novo, e EM PÂNICO. Não deu outra, nada de batimentos. E lá fui eu, para mais uma AMIU.
Dessa vez eu fui derrubada. Conclui que não queria mais tentar para evitar sofrer. Todos os exames, até agora, davam resultados normais, absolutamente normais. Fomos a uma geneticista e fizemos todos os exames genéticos (dessa vez o material do aborto também foi para análise genética). Ao final tudo o que sabíamos é que eu era uma mulher, ele era um homem, e nosso bebê era absolutamente saudável no que diz respeito à genética. O que indicava que todos os outros também eram.
MAS, num exame de sangue de rotina (que eu já tinha feito umas 10 vezes desde o meu primeiro aborto antes da gravidez da Alice), finalmente apareceu a luz no fim do túnel: positivo para Anticoagulante Lúpico!
Lá fomos nós para o reumatologista que nos passou o protocolo completo de como deveríamos proceder tão logo tivéssemos nosso positivo em mãos: AAS infantil + 2 injeções de anticoagulante diariamente. E, partimos para o que considerávamos a nossa última tentativa.
Logicamente, e como era de se esperar em casa de coelho, um mês depois da nossa consulta com o reumato, eu tive a resposta do positivo. Imediatamente comecei com as injeções. E, com 6 semanas fomos premiados com o inigualável som do tumtumtum que todos os pais tanto amam ouvir!
Não tenho a menor idéia porque desatei a contar essa história, nem onde eu pretendia chegar, mas acho que era mesmo um desabafo. Ou talvez uma necessidade de suprir uma lacuna, a do aborto e da esperança que existe depois dele.
Quando decidimos procriar, ninguém nos diz que existe a possibilidade de termos um aborto. Ninguém nos conta que existe a possibilidade de termos abortos múltiplos. Simplesmente nos dizem, e cobram, a reprodução. Depois do meu primeiro aborto acabei encontrando apoio onde eu menos esperava, num grupo do orkut formado por mulheres que também tinham passado por isso. Esse grupo acabou, depois de muita filtragem, se tornando um grupo que hoje, quase 5 anos mais tarde, ainda é amigo. Todas abortaram, algumas 1 vez, outras mais vezes, todas tiveram filhos depois do aborto. Todas me ajudaram a segurar a minha barra quando vieram os 3 abortos do último ano. E, sem o apoio delas, e do meu GO e do meu reumato, eu certamente não teria tido a coragem de tentar essa última vez e, talvez, eu vivesse minha vida sem conhecer meu menininho.
Então, acho que é por isso que acabei decidindo abrir meu coração aqui, para que outras que venham a passar por abortos saibam que a luz no fim do túnel está sempre acesa e que se o desejo de ter um filho é real, não vale a pena sofrer sozinha, nem desistir!

19 comentários:

  1. Nossa... Posso te falar que me emocionei com sua história? Não, nunca sofri nenhum aborto. Minha irmã sim sofreu esse ano, e ela ainda está visivelmente abalada e com medos.

    Vou mandar seu blog pra ela ler e quem sabe ela busca forças para não desistir jamais.

    Obrigada por compartilhar suas experiências conosco e encorajar tantas mulheres que por algum motivo desistiram ou sentem medo de se tornarem mãe.

    BJs

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  2. Oi
    Tambem abortei, e depois de exames, foi constadado a mesma, coisa.
    Quando ficar gravida novamente, terei que tomar essas injecoes de heparina.
    Nunca conheci ninguem que tomou essas injecoes.
    Tenho mil duvidas e preocupacoes.. normal ne..
    Bom, eu queria saber como foi sua gestacao, parto, 'e tranquilo tomar essas injecoes diariamente?
    bj
    monik

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  3. monik -
    estou na 14 semana. Já me habituei a me injetar 2 vezes por dia. No início é um pouco assutador... hoje já tomo a injeção andando no meio de uma loja ou dirigindo!rs
    A barriga fica arroxeada, não é bonito... mas, quer saber, e daí, né? O que é lindo é o que está DENTRO dela!
    E dá medo, muito medo... medo de se cortar, de chegar a hora do parto e não dar tempo de suspender a heparina antes da cesárea (sim, é possível o parto normal usando heparina, mas dada a minha idade e histórico, melhor não tentar nenhum ação heróica... mas uma pessoa sem nenhuma outra condição de saúde pode sim cogitar o parto normal, hospitalar e com um EXCELENTE médico do lado!)... enfim... medo de TUDO... mas esse medo passa totalmente cada vez que falo com o meu médico, que me passa tranquilidade e que eu sei que tem segurança no que está fazendo!
    Hora dessas, mais adiante, farei um post dedicado à gravidez com uso de heparina, e quando o Lucas nascer, pode ter certeza que contarei do parto!
    No mais, o único incômodo real que eu sinto é não poder raspar as pernas e axilas... se eu não tivesse uma filha, seria simples, faria depilação sempre... mas com filha falta tempo!hahahaha
    Fica tranquila, a gravidez com uso de heparina é bem mais traquila do que parece... só é mesmo meio carinha!
    Eu uso o Fragmin, que é o mais barato que eu encontrei... Clexane não deu não... eu ia ter que tirar empréstimo na caixa!hahahaha

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  4. Que lindo! É muito bom fazer parte da sua história, e comemorar MUITO a chegada do Lucas!
    Beijos, Maíra.

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  5. Você é uma vencedora, muito lindo compartilhar a sua história bjs frederika

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  6. Hoje foi um dia muito triste para mim, descobri que com 8 semanas e 6 dias o coraçãozinho do meu bebê havia parado de bater...Hoje com 10 semanas, o mundo está diferente para mim, amanhã farei a curetagem, e espero que Jesus Cristo em sua infinita bondade me conceda a graça de ser mãe. Vanessa

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    1. Vanessa, é duro sim, e eu sei que não existe nada que eu possa dizer para amenizar a dor. Sofra o seu luto, fale dele, e deixe o tempo te ajudar. Um dia, eu prometo, a dor ficará tolerável! E, acredite, é muito mais comum do que pensamos! E, sim, você vai ser mãe!

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    2. Quando descobri (dia 12-06), queria uma resposta, uma explicação, mas encontrei algo infinitamente melhor, histórias de perseverança como a sua. Obrigada por me responder, gostaria de manter contato e em breve contar as boas novas!

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  7. Ola Mariana, sofri um aborto em agosto (primeira gravidez) e ainda estou me recuperando emocionalmente. Ate pensei em nao tentar mais ter filhos, mas agora que o tempo esta passando e eu recuperando forcas vou tentar novamente. Queria te agradecer pelo seu desabafo, pois ele me deu coragem para tentar novamente. Vc foi extremante forte! Te admiro por isso! Somente quem passou por isso sabe o quao dolorido é....

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  8. Minha primeira gestação foi planejada, eu, meu esposo e a familia inteira sonhávamos com o dia do nascimento do nosso amado anjinho, fiz o primeiro pipi no palitinho e finalmente os dois pauzinhos constava ali, eu tenho certeza que aquela sim foi uma da melhores sensações que uma mulher pode ter na vida, parecia não ser real tamanha dádiva na minha vida, eu estava mto feliz me sentia a mulher mais realizada do universo afinal eu estava carregando no meu ventre um sementinha fruto de um amor, com 4 semanas iniciei o pré natal, na 6º semana euu estava tão eufórica e ansiosa, finalmente iriamos mudar para uma casa maior, com mais conforto e espaço pra o nosso bebe, meu esposo teve que viajar a trabalho e fiquei em casa sozinha por 1 semana arrumando a mudança para a casa nova, acredito que esse tenha sido o meu erro deixar que anciedade falasse mais alto que eu. Finalmente chegou o dia da tão esperada Ultra Obstétrica então no dia 17|09|2013 meu sonho se foi... Batimentos ausentes, tamanho de Saco Gestacional compatível a gestação de 6 semanas, ali eu tive a certeza que algo estaria errado meu GO recomendou estar refazendo a ultra em 2 semanas, eu não qria acreditar de forma alguma que meu anjinho não havia se desenvolvido, então refiz a Ultra em 3 semanas o msm resultado tão temido, só que dessa vez de maneira mais dolorida pois eu tinha na mãos um laudo de óbito fetal, fiz a curetagem me senti tão vazia. Ainda tenho mto medo de tentar uma nova gestação. Tenho fé que em alguns meses estarei tão feliz qto na minha primeira gestação.

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    1. Euu tambem perdi meu tao sonhado milagre da vida ne de caregar no meu vetre uma vida mas com tanta alegreia a cabou longo com o meu sonho quando fui faser meu primeiro utrassom nao avia mas batimetos do meu bebe eu estava de 3 meses poxa meu chao desabou eu so sabia chora mais nada eu nao queria enteder nada foi 15/04/2014 q meu sonho foi enteropido em fim to muito triste ainda mas Deus saben de todas aa coisa ne so basta ter fe ne

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  9. Mari, já conhecia por alto algumas partes da historia por outros posts e comentários.... Sempre tive vontade de vir aqui ler o post, mas ainda nao tinha tido tempo, hoje com a atrde meio livre no trabalho, me lembrei do seu blog e vim dar uma olhada!
    Impossível nao se emocionar com sua historia, e por outro lado ela me explica muito da mãe apaixonada que você é!
    Adorei!
    bjs
    Fernanda Curado

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  10. Olá, tb estou me recuperando do segungo aborto retido. Eu, 35 anos e meu marido, 34 anos, com exames todos normais tentamos engravidar durante 3 anos. Nesse período fiz induçao com medicamentos, us seriados, controle de ovulação e nada. Em agosto de 2013 veio o tão sonhado positivo sem tratamento. Tantos planos, presentes e expectativas de toda a familia. No primeiro us, nada de bebê, só o saco gestacional vazio. E na 9 semana, foi constatado gravidez anembrionária e lá fui eu para a curetagem. Em janeiro de 2014, com o aval da médica, fomos liberados para tentar de novo e para nossa surpresa, o positivo sem tratamento no primeiro ciclo. Esperamos 8 semanas para contar para a familia, fizemos o us, ouvimos o coraçao, vimos o bebê mexendo os bracinhos e perninhas....felicidade total, que durou só até a 12 semana, quando fomos fazer a us para ver a translucência nucal. Meu chão abriu novamente. O bebê estava sem batimentos há quase 4 semanas. Meu corpo não percebeu, a barriga continuava a crescer. Fui internada para procedimento de urgencia. A médica tentou fazer a induçao do aborto para evitar outra curtagem recente. Sofri quase 16 horas de dores (pois nenhum medicamento fazia efeito) e comecei a ter muito sangramento e nada de expulsar o feto. Fui submetida a curetagem novamente. Estou me recuperando, mas teremos que fazer exames para saber a causa dos abortos e esperar pelo menos 6 meses para tentarmos novamente. Ainda estou muito abalada, cheia de ansiedade, medos e dúvidas....mas lendo esses depoimentos aqui, percebo que não sou a única e espero descobrir uma causa através dos exames para evitar outras perdar....boa sorte para vcs!!!!

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  11. ola; obrigada por escrever a tua historia . Eu já tenho um aborto espontâneo e outro retido :) , o ultimo há um mês atrás e quero engravidar outra vez . Os 3 médicos da maternidade dizerem que sim, mas hoje a medica de família mando esperar - não porque há algum problema, mas só porque sim.........- ficai um pouco desiludida com a atitude de ela e pensativa ; não sei se as coisas correr mal outra vez tinha coragem tentar mais. mas vou ver, que Deus quiser ........o meu problema é a anemia , agora estou a tomar ferro e acido folico e espero que seja desta vez..........e pena que a medicos que ainda manda uma pessoa mais abaixo. Helen

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  12. ESTOU ME SENTINDO BEM MEHOR DEPOIS DE LER OS COMENTARIOS E SABER QUE AINDA POSSO ENGRAVIDAR E CONCEBER UM FILHO POIS SE VÇS VENCERAM EU TANBEM VOU VENCER

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  13. Apesar de antigo o post, pra mim, é muito atual! Passei por um aborto retido ha 3 meses, nao sou mais uma garotinha, e sao varias pressões internas e externas que a gente tem que enfrentar quando finalmente decide-se pela maternidade e a idade é um dos fatores marcantes… A tua historia serviu como um bálsamo pro meu coração e fez minha fé aumentar ainda mais! De fato, encontramos apoio em quem menos esperamos, e de quem a gente tanto espera uma palavra encorajadora, às vezes so sabe dizer "no momento certo…" "Deus sabe de todas as coisas…" e isso machuca um bocado. Eu sei que O Todo Poderoso sabe e tem o controle de tudo, tenho uma fé muito grande em Deus, mas o que uma mulher que passa por um trauma do genero precisa ouvir numa fase como esta é "vc vai conseguir!" "nao desiste!" Nao é querer ser paparicada, mas mulher funciona assim. Uma enxurrada de emoções e que qualquer palavrinha inapropriada abate muito… Mas obrigada por tua testemunhança super positiva!! Deus abençoe tua família!!

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  14. Passei por um aborto a 4 dias, estava de 20 semanas qdo fui fazer ultra para saber o sexo, descobri que o coração do meu bebê não batia mais, meu mundo desabou, tive que fazer parto induzido, minha bebê era uma linda menina, todinha formada, rostinho e corpinho perfeito. Até agora não consegui entender o que aconteceu. Sua postagem foi muito importante para eu tentar uma nova gravidez. Obrigada pelo conforto.

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