Deixa eu me explicar... quando éramos crianças, todo e qualquer problema que uma criança apresentava era levado ao pediatra. Ele, e só ele, tinha a autoridade e o conhecimento para examinar, avaliar e diagnosticar uma criança. As mães e os pais, em geral, se limitavam a saber apenas sobre as questões médicas que envolviam seus filhos. Uma vez ou outra eram expostos a outros males através dos filhos dos amigos próximos ou até mesmo de filmes. A maior parte dos nossos pais nunca ouviu falar em Alergia à proteína do leite de vaca, intolerância à lactose, autismo, síndrome de asperger, e assim por diante. Pouco sabiam e pouco se interessavam naquilo que não dizia respeito aos seus filhotes.
Com a internet o acesso à informação foi facilitado e agora mães de todos os cantos do planeta trocam idéias, compartilham suas aflições e medos, contam as histórias de seus filhotes e de todas as mazelas que o acometem desde o primeiro momento de suas pequenas existências. São incontáveis comunidades do orkut, fóruns de debate para mães, grupos virtuais de apoio à mães de crianças com problemas específicos, blogs e websites de pais e mães aflitos que lutam contra essa ou aquela doença, dicas, truques, quebra-galhos de como alimentar, banhar, vestir, lavar, medicar, enganar, criar, educar... ufa! É tanta informação que por vezes as mães ficam tão empenhadas em ler, pesquisar e aprender que esquecem o principal: seus filhos pelo que são!
Não raro vejo grupos inteiros de mães submetendo seus filhos a infinitos exames para investigar um refluxo que ela acha que ele pode ter, ou uma potencial alergia à proteína do leite de vaca que ela está certa que ele tem. Ela leu na internet sobre isso, ela sabe os sintomas e vê que seu pequeno tem alguns deles, ela já o diagnosticou, mas todos os pediatras parecem simplesmente não enxergar ou não querer ver a realidade. Ou ainda, seu filho foi diagnosticado com alguma doença rara e ela pesquisa TUDO o que pode, na internet. Encontra algumas coisas interessantes, mas também muita informação com erro... não importa, se está na internet, é fato, é real e é informação importante, pensa ela. E assim a vida da criança passa a ser vista no foco da doença e de tudo aquilo que a mãe aprende sobre o tema. Tudo o que a criança faz ou deixa de fazer passa a ser visto sob o prisma da "informação" que ela obtem diariamente em suas leituras internéticas.
E foi assim que eu caí nesse texto do blog Amalah (para quem não sabe como funciona, basta clicar no texto marcado que você irá diretinho para o texto da Amy!), uma blogueira de primeira, divertidíssima, que narra suas experiências como mãe. Seu filho foi recentemente diagnosticado com autismo e ela ainda está lutando para entender a questão e todas as peculiaridades do pequeno. Ele, um adorável menininho de quase 5 anos, está reagindo a toda a atenção que recebe. E o trabalho que ela faz com ele, mesmo que, por vezes, ela não consiga reconhecer, é espetacular. Mas, como o fantasma do distúrbio fica assombrando a cabeça dela, e como ela é bombardeada com informações sobre o tema, acaba, por vezes, esquecendo que mesmo uma criança especial, as vezes, é apenas uma criança e terá atitudes compatíveis com isso, o ser criança!
Minha sugestão é que quando você se deparar com um problema com seu filho, pesquise, eduque-se, discuta com outros pais que passam pelo mesmo problema. MAS, nunca esqueça que apesar de qualquer diagnóstico, seu filho é só uma criança e nem tudo o que ele faz é ligado ao problema. Crianças saudáveis e doentes, com perfeito desenvolvimento psicomotor e com distúrbios nesse sentido, crianças que vivem em lares felizes e as que vivem em lares nem tão felizes assim, crianças ricas e pobres, todas elas têm algumas coisas em comum: elas, as vezes, fazem birra e malcriação, elas estranham e reagem negativamente, e as vezes agressivamente, ao desconhecido, elas choram, elas gargalham, elas brincam, ela se irritam com um brinquedo que é difícil demais para elas, elas vomitam, elas ficam gripadas, os narizes escorrem, elas tossem, elas tropeçam e caem, se ralam e choram, elas aprontam, desobedecem, dizem que te amam para, cinco segundos e meio depois, te odiarem, e logo em seguida, voltarem a te amar...
Nem tudo é doença, nem tudo é específico de uma ou outra criança...
Quando a barra pesar e você achar que tem algo errado com o seu filho, ao invés de correr para a internet e pesquisar loucamente, pare, desligue-se de tudo, e olhe apenas para o seu filho, isolado do resto do mundo e perceba que ele é, apesar de tudo, apenas uma criança!