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terça-feira, 27 de novembro de 2012

A pobreza

Sou daquele tipo de mãe que não gosta de filho alienado das realidades do mundo. Quando Alice olha para um mendigo na rua, logo explico que aquela pessoa é pobre e não tem onde morar e que isso é triste e difícil. Quando ela não quer comer por capricho (no melhor estilo "não gosto de chuchu porque não sei nem que gosto tem mas decidi que não gosto e pronto"), explico que existem criança no mundo que não têm nem isso pra comer e que é mito triste ela tratar comida assim. Algumas vezes por ano, fazemos uma limpa nos brinquedos e damos aqueles que ela não brinca mais, e deixo claro para ela que eles irão para crianças que não têm dinheiro para comprar brinquedos. As roupas que já não cabem nela também são dadas, por ela, diretamente, para a empregada da minha sogra, cuja a neta é pouco mais nova do que ela.
Enfim, gosto que minha filha saiba que ela tem sorte de ter uma casa, comida, escola, roupas e brinquedos. E gosto que ela entenda que é importante ajudar, como podemos, as pessoas que têm menos do que nós.
Com isso, a questão da pobreza nunca foi muito segredo aqui em casa. Mas, recentemente, ela ouviu uma conversa entre meu marido e eu, onde pensávamos nos preços dos imóveis da orla do Rio de Janeiro e sobre como tem gente com dinheiro saindo pela culatra. E dizíamos que, quando comparados a eles, éramos MUITO pobres. E, assim, surgiu a curiosidade da pequena.
"Vó, como é que é ser pobre?"
"Ser pobre é não ter dinheiro para comprar comida, para comprar tudo o que queremos..."
"Não, vó, não quero saber o que quer dizer, quero saber como É ser pobre!"
"Ahhh... sei lá, não dá pra comprar tudo que quer..."
Ela ficou pensativa... e a avó cutucou:
"Você é pobre ou é rica, Alice?"
"Não sou pobre..."
"Então é rica?"
"Ahhhh... só um pouquinho!"
E, fico contente que ela tenha entendido que não temos tudo o que queremos, mas temos bem mais do que precisamos!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A Humanização de Samba Lelê

No rádio do carro tocava um CD com músicas infantis. Alice cantarolava toda contente no banco traseiro. Eis que começa a tocar a famosa Samba Lelê, e Alice protesta:
"Mãe, coitada da Samba Lelê... não gosto da pessoa que escreveu essa música porque a samba Lelê tá machucada, com a cabeça quebrada, ela precisa é de curativo, não de palmadas! Palmada nela não é educado. Tinha que ser: 'Samba Lelê tá doente, tá com a cabeça quebrada, Samba Lelê precisava é de um curativo! E aí também, ela pisa na barra da saia. Se ela fizer isso, já está com a cabeça quebrada, vai cair e se machucar mais ainda."
Impossível não concordar!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Quando tudo vale a pena

A semana que passou foi complicada. Lucas gripado e eu mal dormi. Foi feriado, longo, e enquanto todo mundo parecia descansar, eu fui ficando mais cansada do que já estava. Hoje, com a vida voltando ao ritmo normal, sento no sofá, ao lado da Alice, e digo que estou precisando de férias, ela, rindo, responde:
"Mãe, sua boba, você não pode tirar férias do teu trabalho!"
"Não posso?"
"Não, né? Não tem como tirar férias de mim e do Lucas!"
"Ahhh, tem sim... mando vocês pra um hotel!"
"Não, mãe, eu não quero que você tire férias! Vou ficar com muita saudade!"
"Jura? E você acha que sou boa no meu trabalho, filha?"
"Lógico... você é a melhor que eu conheço! Eu te amo MUITO, mãe!"
E, assim, já estou reenergizada para mais uns bons meses sem férias!

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Ainda sobre o Bom velhinho

Perguntei para a minha afilhada, quando ela tinha lá seus 5 ou 6 anos (hoje já é uma marmanjona de 18!), o que ela tinha pedido ao papai noel. Com um ar de uma certa indignação ela me fitou seriamente e respondeu que não acreditava mais em papai noel. Eu, brincando, fingi surpresa: "COMO ASSIM, não acredita? Lógico que ele existe! Se não existisse, como é que eu ia ganhar presente todos os anos?"
Ela ainda insistiu um pouco, me explicando que não existia, que era só mentirinha.
Com ar tristonho perguntei: "Mas, e aí, e não existe, quer dizer que não vou ganhar presentes?"
Seríssima, ela se aproximou de mim, pousou sua mãozinha sobre meu joelho e, com um tom doce e preocupado, falou: "Não se preocupa não, dinda, você vai ganhar presente... na verdade, são os teus pais que sempre te deram os presentes que eles diziam que eram do papai noel!"

E assim, a mágica do papai noel se encerrou na primeira geração da minha família... até o primeiro sobrinho nascer!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Criando Realidades

Aqui em casa "praticamos" Papai Noel. É ele quem trás um dos presentes, O presente, aquele da cartinha. Os demais, deixamos claro, somos nós e os familiares quem dá mesmo.
Alice acredita no bom velhinho e AMA o Natal.
Hoje, conversando com ela, falei que precisaríamos deixar uns biscoitos e um suquinho para o Papai Noel tomar um lanchinho quando passasse pela nossa casa. Ela ficou animadíssima com essa idéia e começou a puxar papo sobre a visita do Papai Noel.
"Mãe, sabia que o Papai Noel só passa na casa das crianças quando ela estão dormindo? Porque?"
"Porque se ele tiver que falar com todas as crianças, não vai dar tempo de ir na casa de todas elas em uma só noite!"
"Mas, mãe, sabia que no ano passado, na hora que o Papai Noel chegou lá em casa, ele viu a nossa árvore e deu um gritão de alegria? Aí eu ouvi e fui CORRENDO lá na sala e vi ele indo embora!"
"É MESMO??? Só de curiosidade, filha, o que ele estava vestindo?"
"Ahhh... o de sempre... barba branca, camisa vermelha, e calça vermelha!"
"E, ele não estava com calor não?"
"Não, a camisa era de manga normal... não era de manga longa não!"
E, disso, ficou a lição de que a minha filha curte acreditar no Papai Noel, a ponto de criar essa realidade fantasiosa, só para ter prazer com a farra natalina!
E, assim, que venha o Natal!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Filosofices Alicences Latrinais

Alice não consegue parar de falar, NUNCA, nunca, nunquinha. Então, quando senta no trono, ao invés de ler silenciosamente, começa a filosofar em voz alta. E nessa onda me sai com pérolas sensacionais.

"Mãe, preciso tirar o arco."
"Porque filha?"
"Pra não sujar."
"E, porque sujaria o arco quando você faz coco?"
"Porque a mão pode chegar perto da bunda, aí, se eu encosto no arco, suja, né?"
LÓGICO!


"Mãe, sabia que eu descobri que eu sou um pouquinho menino?"
"É mesmo? Como?"
"É que eu tenho um pintinho, BEEEEEEEEEEM pequenininho!"
INVEJA DO PÊNIS????


sábado, 3 de novembro de 2012

Parou na Rampa

Eu confesso que sou meio revoltada com essa coisa de falta de acessibilidade no Brasil. E sou chata sobre esse assunto. Chata MESMO! Reclamo, esbravejo, exijo que a acessibilidade seja respeitada em lojas, chamo gerente, reclamo, protesto. Chata.com.br e com muito orgulho, sim senhor!
E já passei essa minha chatice para a Alice.
Moramos próximo à ABBR, e, com isso, Alice está habituada a ver pessoas com todos os tipos de dificuldades de locomoção. São centenas delas entrando e saindo dali o dia inteiro. No início Alice questionava muitas coisas. Porque algumas pessoas não tinham uma perna, ou andavam com botas especiais, ou porque algumas crianças eram carregadas por suas mães, ou não respondiam aos acenos que ela dava para elas. Eu sempre respondi com muita naturalidade, sem rodeios, explicando que nem todo mundo nasce igual, e algumas pessoas nascem com algumas diferenças que precisam de ajuda para poder ir de um lugar para o outro. Explico também que algumas pessoas se machucam e precisam aprender a andar de novo. Todas as perguntas são respondidas, dentro do possível.
Alice tenta entender tudo em seus próprios termos e, como eu, já se preocupa com o bem estar dessas pessoas. Esse processo de compreensão já me premiou com pérolas como "mãe, é um absurdo as pessoas pararem na rampa da calçada, porque as pessoas que só têm joelho não conseguem passear!".
E nesse espírito, num dia de fúria, em que, ao longo do dia, em nenhuma ocasião consegui subir com o carrinho de bebê pelas rampas nas calçadas por conta de carros estacionados na frente delas, decidi fotografar os carros e postar na internet. No momento que fui tirar uma dessas fotos, Alice me questionou sobre o que eu fazia. Eu logo expliquei:
"Filha, a mamãe fica muito brava com essas pessoas mal educadas que param na rampa, sem pensar que tem gente que precisa da rampa para poder passear. Então decidi que vou fotografar para poder mandar a foto para a internet. Quem sabe assim as pessoas começam a pensar sobre esse assunto, e não estacionem mais na frente da rampa, né?"
Ela, empolgada, me sugere: "Mãe, e se a gente fizesse umas plaquinhas no computador, escritas 'por favor, não pare na rampa', e colocasse em todas as rampas que a gente encontrasse?"
Expliquei a ela que era uma idéia maravilhosa, mas que as pessoas eram tão mal educadas que possivelmente pegariam a plaquinha dela e jogariam fora, mas que poderíamos adaptar a idéia dela e fazer bilhetinhos com esse texto para colocar no parabrisa de todos os carros que encontrássemos parados na frente de rampas.
Alice amou a idéia e aderiu. Já estou providenciando os bilhetinhos para que ela possa colaborar com a chatice da mãe dela e, quem sabe, ajudar a fazer o nosso cantinho de mundo um pouquinho melhor...