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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Jumento não é!

Alice foi ao teatro pela primeira vez. Decidi levá-la para assistir a montagem de "Os Saltimbancos" que estava em cartaz. Ela já conhecia a peça pelo disco, que ouço bastante, e pelo livro, que ela me faz ler e reler diariamente. Ela é simplesmente apaixonada por aquela trupe de animais!
Eu já vinha animando a baixinha para o evento desde o início da semana. Expliquei a ela que ela iria ao teatro, que era parecido com o teatrinho da Dona Baratinha que vira na festinha da amiguinha. Expliquei que teatro era programa de menina grande, que ela sentaria numa poltrona sozinha, as luzes se apagariam e toda a história que ela conhecia apareceria no palco. E ela se animava mais e mais a cada dia.
Eu confesso que estava apreensiva. Achei que ela poderia simplesmente não parar quieta na poltrona, reclamar e querer pintar as carapuças. Pensei que talvez, no momento da invasão da Pousada do Bom Barão, quando há uma certa atividade mais tensa no palco, ela pudesse ficar com medo. Imaginei que não iria aguentar a peça inteira e acabaria por me pedir para sair antes do final. Fui pronta para tudo, menos para o que realmente aconteceu.
Ela chegou, sentou na poltrona comportada. Olhou séria para mim e disse: "vai tê tiato, mamãi!" Aguentou firme a demora para o início da peça. Em determinado momento olhou paa os lados, depois me fitou e exclamou: "Ponto, manhê, podemos começá?" e depois seguiu cantarolando e batendo palmas: "Começa, começa!"
As luzes se apagaram e o primeiro personagem, o Jumento, surgiu no palco. Do meu lado ouvi o choro de uma criança assustada. Olhei para ela, temendo que ela entrasse na onda do medo. Mas eis que ela estava ali, no escurinho do teatro, com os olhos brilhando como estrelas, fixos no palco, um certo ar de admiração e surpresa. Fiquei olhando, boba, quase chorando de emoção por ver minha bebê sentada como uma menininha. Ela percebeu que eu a olhava e me olhou de volta. Com um sorrisinho nos lábios, apontou para o palco e disse: "Oia, mamãiii, é o Jumento!" Eu sorri e voltei a olhar para o palco, mas sem conseguir parar de deixar meu olhar orgulhoso cair para ela de volta.
Comportou-se como uma dama por toda a peça. Vibrou nos momentos certos, aplaudiu nos momentos adequados, cantarolou alegremente, e, uma vez ou outra, olhava para mim com um ar de plena satisfação, total alegria e um pouco de agradecimento. Ao final falou com os personagens, deu beijos em todos, e me declarou que "Alice adoiô o tiato!"
Foi mágico! Ela quer mais, e eu, lógico, a levarei de novo e de novo e de novo, enquanto ela curtir o teatro comigo do lado, eu estarei lá.

PS - vale uma nota de pé explicando que a produção era ruim! Ruim mesmo! Alteraram o texto, aquele lindo texto Chico Buarquiano, equilibrado, limpo, harmônico! Alteraram algumas harmonias, "Todos Juntos" virou rumba, e houve entonações rápidas de funks... lamentável! Mas, o que importa é que a baixinha vibrou!

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