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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O Fio que nos conduz

Alice ama livros. Um dos seus programas favoritos é ir para uma livraria e se enfurnar no departamento de livros infantis por algumas horas para poder ler tudo que tem nas prateleiras (acho que é genético, cansei de fazer turismo literário na Barnes & Nobles!). E, nessa onda, acabamos encontrando muitos livros legais e alguns nem tanto.
Um dos que ela mais curtiu até hoje foi um livro sobre mães (me batam, eu não lembro o nome do livro nem da autora!), no qual a autora falava que as mães e os filhos eram ligados por um fio invisível que ia de um coração ao outro, e que esse fio fazia com que as mães sentissem tudo o que os filhos sentiam e nunca estivessem muito longe deles, mesmo quando não estavam presentes.
Alice achou essa idéia SENSACIONAL. Repetiu para todo mundo e virou e mexeu, olhava para mim, e, com os dedinhos pinçando um fio imaginário, gesticulava o fio indo do coração dela para o meu. Toda noite, antes de dormir me falava que iria dormir bem pertinho de mim por conta do fio que nos ligava.
Também em sua onda literária, Alice aprendeu sobre os mitos gregos e as lendas brasileiras e concluiu, por conta própria, que a grande diferença entre os dois seria que os mitos teriam acontecido num passado remoto, enquanto as lendas eram só faz de conta.
E assim, juntando lé com cré, Alice, certa noite, ao deitar, anuncia:
"Mamãe, sabe aquele fio que liga o teu coração no meu? Ele é uma lenda, não é de verdade!"
"Filha, ele não é uma lenda, é que ele é imaginário..."
"Não, mãe, é mentira, ele não é de verdade, é só uma lenda. Nossos corações não são ligados!"
"Filha, não é uma mentira, é imaginário. Imaginário, quer dizer que ele só é verdade na nossa imaginação, na nossa cabeça. Mas não é mentira, nem lenda! Meu coração é ligado ao teu porque eu te amo muito!"
"Eu também te amo, mãe, mas é de mentira o fio, porque, quando eu fico longe de você, eu sinto saudade, e você sente saudade de mim quando você fica longe de mim! O fio não existe, viu!"
"Filha, é lógico que eu sinto saudade, mas não importa onde você esteja, só porque eu penso em você, já me sinto mais pertinho... isso é que é o meu fio imaginário!" (tá... ela tem só 3 anos e 11 meses e eu talvez tenha exigido um pouco de abstração demais, mas, não tem como não viajar junto com ela, né?rs)
"Tá, mãe... mas, se você morrer, eu VOU chorar, tá? Porque o fio é de mentira e você não vai poder ficar comigo depois que você morrer!"
OI????? Como assim, né?
"Tá, filha, vamos combinar assim então, se eu morrer você pode chorar a vontade! Mas fique sabendo que mesmo morta eu vou sempre pensar em você e te amar muito muito muito, tá bom?" (aprendi na faculdade de psicologia que papo de maluco não se corta, se contorna!rs)
"Então tá, mãe, combinado!"
E assim, feliz e satisfeita com o papo que tivemos, Alice me deu um longo beijo, um delicioso abraço, me afagou o rosto, como sempre faz, virou pro lado, deu um longo suspiro e dormiu tranquilamente o seu sono dos justos.
E o que parecia um papo de maluco meio mórbido acabou sendo uma das mais deliciosas declarações de amor que minha filha já me fez! Além do que, percebi que ela, não sei como nem porque, já elaborou bem mais do que eu podia imaginar, a questão da morte e da ausência. Sem medos, nem crenças malucas de estadias em paraísos de papais do céu, e sem tabus. Afinal, quem mistifica esse momento somos nós, os adultos.

2 comentários:

  1. Ai que fofa essa sua filha! e espertissima tambem!!!
    Eu me interessei pelo livro e fui procurar! Se chama; Coração de mãe, segue o link da editora: http://www.planetatangerina.com/pt/livros/coracao-de-mae
    bjs

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  2. Luana,
    Obrigada pela pesquisa. O livro é bem lindinho mesmo!!!!

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