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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Meu filho sabe mais que o teu... la la li la la ra

Se tem uma coisa que me irrita profundamente é a competição materna! O pior é que ela é tão comum que é impossível fugir dela!
Começa na barriga. Tem aquelas mães que adoram dizer que fizeram a ultra e que o médico disse que o filho dela está enorme, acima da curva. Contam isso como se fosse grande vantagem. Certa vez uma me contou, como quem conta que ganhou na loteria, que o médico tinha dito que, caso o filho dela continuasse crescendo na barriga como estava, nasceria com quase 5kg! Veja bem se isso lá é vantagem! Faltou o médico explicar a ela o pequeno detalhe que crianças que nascem acima de 4kg precisam ser observadas de perto para o diabetes... pois bem, quero meu filho na curva, nascendo bonitinho com seus máximos 3.500kg! Acima disso não é vantagem, é risco!
Aí a criança nasce e começa a fase de comparação: "Meu filho está só com 15 dias e já levanta a cabeça! E o teu?", "Meu filho só tem 3 meses e, olha só, já está nascendo dentinhos! E o teu?", "Meu filho aprendeu a falar com 7 meses! Com 9 já fazia frases! E o teu?", "Meu filho, com 7 meses, andava a casa inteira! Não tinha quem o segurasse! O teu AINDA não anda?" e assim vai!
Pois bem, eu geralmente dou uma boa zoada em quem começa com essas comparações cretinas e já respondo na lata coisas como: "15 dias só? A minha já chegou do berçário levantando a cabeça!!!" e, pronto, a mãe tão cheia de si já entra numa espiral maluca de que o filho sofre com atrasos! Sou má, não nego!
Seria importante que as mães "comparadoras" entendessem uma única coisa: CADA CRIANÇA TEM O SEU TEMPO!
Alice falou cedo, com 10 meses soltou sua primeira palavra, com 15 meses juntou suas primeiras duas palavrinhas numa pseudo frase! Hoje, aos quase 4, ela fala tudo e tem um rico vocabulário. Em parte por estímulo meu, em parte por curiosidade própria! Mas, ela está no tempo dela, nunca foi apressada e nem é superdotada. Simplesmente, na programação genética dela estava escrito que ela seria uma criança que falaria cedo! Em compensação, com 16 meses é que deu seus primeiros passos solo! No aniversário de um ano ela mal andava de dedinho, curtia mesmo era engatinhar e nem com apoio queria saber muito do assunto andar. Muita gente dizia que eu deveria levá-la a um neuro ou a um ortopedista porque ela devia ter problemas, mas eu sempre soube que não tinha que me preocupar, afinal, tão ocupada estava em falar (não sei a quem saiu essa matraquinha) que o cérebro não tinha muito tempo para se concentrar no andar!
E mais, depois que andou, até quase 2 anos e 3/4 meses, ela parecia um pinocchio desengonçado. Era capaz de pinçar qualquer poeirinha do chão, mas sempre que saia correndo em disparada levava um senhor tombo de cara! Me mandaram num ortopedista que concluiu que ela tinha pernas tortas (que surpresa, minha filha com pernas tortas!). Mandou jogar fora todos os sapatos dela e comprar só tênis de cano longo de couro. E, de quebra, mandou botar uma incômoda e caríssima palmilha no tal tênis. Liguei para um tio ortopedista que explicou que se eu colocasse a tal palmilha a perna dela tinha 90% de chance voltar para a posição correta até os 5 anos, e se eu não colocasse, a perna dela tinha 90% de chance de voltar para a posição correta até os 5 anos. Não coloquei palmilha nenhuma e cá está ela, aos quase 4, com a perna retinha e linda e correndo como uma gazelinha! Era só o tempo dela de ajustar a postura, e nada mais!
Pais que adoram se gabar da genialidade dos filhos esquecem a dificuldade que é, para uma criança superdotada, se adaptar ao mundo! Crianças superdotadas, inevitavelmente, acabam em um certo desajuste social. Seja porque não foram "adiantadas" e se entediaram na escola e acabaram buscando outras formas de estímulo (geralmente encrencas) ou seja porque terem sido "adiantadas" e forçadas a se adaptar a um cruel mundo de crianças mais velhas do que ela. A superdotação não é uma grande vantagem... é quase um problema!
Pior ainda é a criança que não tem nada de superdotada, mas cujos pais AMAM se gabar da inteligência suprema dela. Essa vive sobre a contínua pressão de ser o que não é, de conseguir mais do que pode, de se manter no topo da curva. As conseqüências podem ser graves, acreditem!
Então, mamães e papais, babem suas crias, achem elas o máximo, contem para todos as gracinhas que elas fazem e falam, mas lembrem-se que é importante respeitar o ritmo delas e, especialmente, é importante não ensinar a elas que elas tem que ser mais do que os outros! Ensinem aos seus filhos a lutarem contra seus próprios obstáculos por si próprios e não para serem melhores do que seus coleguinhas!
Não saiam ensinando seus filhos a escrever nas horas livres deles, não sentem com seus filhos de 3 anso e repassem o alfabeto e a ordem das letras. Se a criança se interessar, entre na onda, mas sem empurrar mais longe do que a criança pode ir.
Alice se interessou pelas letras bem cedo, com pouco mais de 1 ano e meio. Adorava reconhecer as letras e me perguntava "m de mamãe?". Depois ela desencanou e as letrinhas de brinquedo cairam para escanteio. Agora voltou sua paixão, quer escrever coisas. Me pede para escrever coisas no papel e copia. Mas, espero que essa paixão se acalme um pouco para ela poder curtir a descoberta das letrinhas junto com seus coleguinhas! Alguns saberão tanto quanto ela, outros menos e outros mais, mas todos estarão descobrindo o mundo mágico das palavrinhas juntos. E que delícia que isso será. Então, para que apressar a infância dela? Porque roubar dela esse momento maravilhoso de descoberta só para fazê-la parecer "mais" do que os amiguinhos dela!
Repitam sempre em suas cabeças que algumas coisas seus filhos farão melhor do que outras crianças, mas outras crianças farão outras coisas melhor do que seus filhos! E isso é que dá a graça do convívio em grupo, cada um, nas suas habilidades, ajuda o outro a ir mais longe!
Portanto, fica a minha história pessoa para quem quiser ouvir. Minha filha falou cedo, mas custou MUITO a andar, curte letrinhas, mas DETESTA colorir (agora está começando a curtir)! Minha filha é uma criança de quase 4 anos, inteligente sim (e que filho não é!), mas absolutamente dentro da curva! Meu filho, ainda na barriga, está enorme, mas dentro da curvinha que deveria estar, não é nenhum superdotado do desenvolvimento intrauterino! Ele nascerá grandão, provavelmente com alguns gramas acima de 3kg, mas será meu grandão mesmo assim! E levantará a cabecinha dele no tempo dele, engordará o que deve, dentro da curva dele e passará cada etapa da vidinha dele dentro da curvinha dele, especialmente considerando que ele será o segundo filho e a curvinha de desenvolvimento dele será totalmente diferente da irmã! Ele será único e especial, conviverá com a irmã única e especial e com todos seus amiguinhos únicos e especiais! E, torço, não será nem mais nem menos do que ninguém mais, só competirá com ele mesmo!

4 comentários:

  1. Amei! Você disse tudo o que muita gente por aí está precisando escutar, obrigada. =)

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  2. A comparação do peso é uma m**, ainda mais quando a sua filha tem 3 anos com tamanho de 2. Já me mandaram até levar em um pastor, pois 'tem que ter uma coisa errada!". Errados estão vocês, ora. Ela está abaixo da média em peso e altura, mas não é hormonal nem falta de comida. É simplesmente o biotipo dela.
    Vamos cuidar dos nossos filhos e parar de tentar se auto afirmar usando eles!
    Beijos

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  3. Olá,

    Toda semana nossa equipe escolhe cinco textos para fazerem parte do top five de domingo. No próximo domingo, seu texto foi um dos escolhidos.
    Parabéns.

    Att,
    Equipe Pira For Kids

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