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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A privacidade dos filhos

Parece até ridículo que uma blogueira materna vá defender a privacidade dos filhos, né? Mas é isso mesmo, gente... acho importante como tema então lá vou eu...
Sempre fui uma pessoa que prezou muito a privacidade. Desde muito cedo meus pais me ensinaram a bater na porta do quarto deles antes de entrar, me ensinaram que não era para eu entrar, sem autorização, no quarto das pessoas. Também me ensinaram que eu, mesmo criança, tinha direito a ter a minha privacidade respeitada. Nunca fuçaram minhas gavetas, nunca leram meus diários, nunca entraram no meu quarto sem bater de a porta estivesse encostada. O conceito era simples:cada um tem direito ao seu espaço.
E isso passava também para o mundo lá fora. Meus pais nunca "apareceram" na escola para ver o que eu fazia lá... se viessem, me avisavam que viriam. Nunca foram falar com professores sem meu conhecimento. Nunca discutiram a minha vida com outros, sem ants me informar que isso seria feito e, normalmente, sem me incluir no assunto.
Na terceira série me lembro bem que tive uma dificuldade qualquer na escola. Minha mãe foi chamada, e, quando a diretora a chamou para conversar, ela fez questão que eu estivesse junto com ela para ouvir e poder me defender.
Acho que isso, esse respeito pela privacidade do outro, foi uma das coisas que mais admirei nos meus pais. Privacidade, acredite ou não, é um valor! E é tão importante quando a ética, quanto a honestidade, e quanto tantos outros valores que precisamos respeitar. A coisa é simples: a vida de cada um é de cada um e ninguém tem o direito de invadir o espaço pessoal dos outros.
E eu faço questão de respeitar isso dentro da minha casa e de ensinar isso para a minha filha. Meu marido e eu temos a política de conversar sobre tudo, de nada esconder do outro. Temos todas as senhas do outro, e acesso pleno a qualquer informação do outro que possamos querer. Mas, NUNCA passaria pela minha cabeça, nem pela dele, de abrir uma carta que esteja no nome do outro, de entrar na caixa de e-mails do outro, ou na conta bancária do outro. Nunca abro a pasta de trabalho dele sem que ele me peça, ele nunca enfiou a mão na minha bolsa sem que eu pedisse. Nunca ele olhou a minha lista de contatos ou telefonemas do celular, nem eu no dele. É simples, temos uma vida em comum, mas temos direito ao nosso espaço. Trata-se de confiança e respeito, e só.
E Alice já entra nesse samba. Já aprendeu que se a porta estiver encostada, não pode entrar no nosso quarto sem bater. Sabe que se tem alguém no banheiro, não pode abrir a porta (aqui não se tranca porta de banheiro). Alice já aprendeu que não pode pegar coisas na minha bolsa, nem na mala do pai. E ela já aprendeu que assim como nós temos o nosso espaço, ela tem o dela. Ela sabe que quando vai ao banheiro, ela não é obrigada a me ter como testemunha lá dentro. Ela me pede para colocá-la no vaso, eu saio, quando ela termina, me chama para ajudá-la a se limpar, mas o momento banheiro ela já ganhou como sendo só dela. Ela também já aprendeu que quando ela está no quarto dela brincando, não é obrigada a me ter lá dentro. Se me diz que quer brincar sozinha, é respeitada.
Quando escolhi a escola que eu queria para ela, uma das coisas que pesou foi esse direito à privacidade da criança. Várias escolas me ofereciam, como "diferencial", o acesso a webcams que constantemente tinham minha filha sob sua mira. Aquilo me causava estranheza. Veja bem, quando escolho a escola, confio, se tenho qualquer motivo para desconfiar, pego meu banquinho e saio de fininho, mas não deixo minha filha lá. O momento escola é um momento que eu entendo como sendo da criança, e não dos pais. É ali que ela vai aprender a conviver e interagir com o mundo LONGE dos meus olhos. A escola, ao meu ver, precisa ser aberta, mas não precisa ser foco de espionagem materna. Aberta, digo, no sentido de que eu, como mãe, preciso ter o direito de entrar na escola a qualquer hora, de qualquer dia, bastando, para isso, chegar ali e pedir para ir até a sala do meu filho, seja acompanhada por alguém da escola, ou sozinha. Aberta no sentido de que a escola não deve ter nenhum ambiente onde a criança fique fora da vista dos responsáveis. Exceto no momento que está no vaso sanitário, o resto do tempo não há porque ocultar atividades.
Aliás, na maioria das vezes que ouço pais falando da escola dos filhos com webcams, ouço o discurso do "ADORO saber o que meu filho está fazendo, adoro dar aquela espiadela!" e quase nunca ouço que os pais olham as cams para garantir que os filhos estão sendo bem tratados.
Em tempos de Big Brother, a coisa toda faz sentido na minha cabeça. Existe uma necessidade extrema de se saber, o tempo todo, sobre o que o outro está fazendo. Ninguém tem mais o direito de estar em algum lugar sem que alguém o observe. Isso, sinceramente, me dá medo!
A escola da Alice é perfeita nesse sentido. Todas as salas têm enormes janelões e, as poucas que não têm, tem portas com vidro para que nunca, em momento algum, a visão para dentro da sala seja obstruída. Existem câmeras de segurança, que podem ser vistas de dentro da sala da coordenadoria, pela coordenadora, que, dessa forma, consegue vencer a lei da física e estar em todos os lugares ao mesmo tempo. A qualquer momento que eu chegue na escola, se eu pedir para ir até minha filha, sou levada de imediato, sem nenhuma burocracia. Não há segredos, não é cantinhos, é aberta. MAS, também não há espionagem. Pais podem entrar e olhar, mas ninguém pode fotografar os ambientes pedagógicos e operacionais da escola sem a autorização expressa da diretoria e ninguém pode, sem o conhecimento da escola, observar as áreas internas onde circulam os alunos.
Essa onda de webcam, conquanto possa parecer um genial avanço tecnológico que se alia aos pais, é perigosa. Veja bem, qualquer um, com a senha, pode observar, em detalhes, a rotina de uma criança ali dentro. E, sabemos bem que senhas de internet são facilmente descobertas... não fosse isso verdade, não teríamos tantas fraudes virtuais e tantos hackers especializados em quebrar e roubar senhas de computador. Curiosamente, aquilo que protege, coloca em risco. Prefiro minha filha segura dentro da escola que eu confio, do que sob a minha espionagem, e de tantos outros que queiram olhar o cotidiano dela!
Além disso, Alice tem o direito de me contar o que quer que eu saiba sobre a escola dela. Lógico que as coisas importantes chegarão a mim pela diretoria, mas o dia a dia, as pequenas coisas, até as surpresas que ela prepara para mim ai, não precisam estar sob meu escrutínio contínuo. Para isso eu pago uma mensalidade cara, para poder deixar minha filha num espaço onde ela tem a oportunidade de se desenvolver em segurança e sob orientação profissional ALÉM do meu controle!
Acho que cada um sabe o que faz, mas, na minha casa é assim que a banda toca. Todo mundo tem direito a ter seus momentos de privacidade, inclusive os pequenos. E acredito que é assim que criamos adultos responsávels, dando a eles a chance de ser o que são FORA do alcance dos olhos de mamãe e papai. Criamos filhos para o mundo, e não para controlarmos todo e qualquer ato que eles fazem.
Mas, como eu sempre digo, isso é só a minha opinião. A opinião de uma mãe que tenta acertar, mas que não é dona de nenhuma verdade.

ps - em tempo, vale dizer que eu publico fotos da minha filha na internet e que conto suas peripécias aqui no blog. Mas, tomo alguns cuidados, entre eles, o de nunca colocar nada que possa colocá-la em risco real e, principalmente, nunca relatar nada que seja tão pessoal dela que possa, no futuro, ser usado contra ela. Conto apenas pequenas "corriqueirices" que refletem o desenvolvimento normal de qualquer criança. E, se um dia ela disser que não quer mais que eu conte suas histórias para os outros, o blog sairá do ar em dois tempos.
Além disso, faço o blog com carinho e não tenho, nem nunca terei, ambições financeiras com ele... minha filha não é um business e nunca será.

2 comentários:

  1. Também nunca gostei deste papo de webcam na escola. Se não se tem confiança na escola, melhor não colocar o filho lá...
    Beijos

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  2. Mariana, muito bom o seu texto. Muito rico também!
    Mostra que vc é uma mãe madura e consciente do seu papel na criação dos filhos!
    Parabéns!

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