BlogBlogs.Com.Br

sábado, 6 de agosto de 2011

Meu parto cesáreo

Eu não pari por via vaginal. Não tive essa opção! Até quis, muito. Me preparei para isso, física e psicologicamente. Mas, não tive essa escolha!
Depois de 38 semanas e 5 dias torcendo para sentir as tais contrações, para conhecer as emoções do parto, fui acordada por uma forte e única contração que começou às 3 da manhã e que simplesmente não passava. Como eu já tinha lido de tudo sobre o assunto, como o meu médico tinha me explicado, e como todo mundo me dizia, contrações deveriam ir e vir, num ritmo contínuo e em intervalos cada vez mais curtos. E a minha não era assim, era uma só. A barriga endureceu e ficou ali, dura que nem pedra.
As 5 horas da manhã, depois de muito me contorcer na cama, tentando encontrar uma posição que fizesse aquilo passar, conclui que não era uma contração e sim gases. Isso mesmo, diagnostiquei tudo, eram gases que estavam fazendo minha barriga ficar tão dura assim. Mas não passavam e eu estava com muita dor, então liguei para o meu médico que me mandou ir para a casa de saúde. E lá fui eu, com um vestidinho que joguei no corpo e nada mais. Nem mala de bebê, nem máquina fotográfica, só eu e meus gases para, imaginei eu, tomar luftal e voltar para casa aliviada!
Cheguei na casa de saúde às 5.15h, meu médico chegou quase junto comigo e ao me olhar toda inclinada e me contorcendo concluiu que era trabalho de parto. Mas a barriga tão dura não era bom sinal. Ele, que é um dos caras mais tranquilos e pacientes do mundo não deixou isso transparecer. Explicou que não tinha nenhum sinal de dilatação e pediu um cardiotoco. Teve dificuldade de encontrar os batimentos cardíacos da minha filha, mas, quando os encontrou, estavam normais. Mas, ainda assim, não me alarmou, simplesmente falou que talvez fosse necessário fazer o parto cesáreo. E prosseguiu com o exame físico. Tirou minha pressão pela primeira vez, deu alta, mas não tão alarmante. Cinco minutos mais tarde, tirou de novo, tinha subido muito, muito mesmo. E ele avisou que seria necessário fazer o parto.
Descemos para o centro cirúrgico, preparamos tudo. Ele me tranquiizou durante a anestesia, falando manso no meu ouvido. Meu marido ao meu lado segurando a minha mão que não tinha nenhum tipo de amarração (ouço sempre esse terrorismo de que na cesárea amarram os braços da parturiente!). O anestesista conversava comigo o tempo todo, e todos nós, equipe, eu e meu marido, conversávamos e brincávamos. Às 6.28h o anestesista perguntou se eu queria ver minha filha nascendo, abaixou o pano, levantou minha cabeça e minha filha nasceu, bem diante dos meus olhos. Foi LINDO, foi SUBLIME, foi MARAVILHOSO. Senti como se meu corpo fosse cortado ao meio por um raio de emoções e como se tudo que eu conhecesse sobre o amor até então deixasse de ser real.
Alice foi logo trazida até o meu lado. Colocaram aquela criaturinha linda bem grudadinha em mim. Eu a acariciei, beijei, cheirei pelo tempo que quis enquanto meu marido a segurava nos braços. Juntos, os 3, pela primeira vez, nos emocionamos e choramos.
Ela foi levada, quando pedi, para o berçário para pesagem e primeiro exame físico. E o meu médico terminou a minha costura e me liberou para ir ao quarto. Eu cochilei. Estava cansada. Acordei entrando no meu quarto, cerca de meia hora mais tarde, junto com ela. E logo ela foi levada ao meu peito, onde se agarrou e sugou como uma perita!
Foi tudo perfeito! Não tive nenhuma dor de cabeça (outro terrorismo comum é que a raquidiana dá uma dor de cabeça infernal... o que depois descobri que só acontece quando há um erro e é algo que pode se corrigir!), não tive dor para urinar, nem para ir ao banheiro pela primeira vez depois do parto. menos de 3 horas depois eu já estava sentada na cama, e 12h mais tarde eu já estava debaixo do chuveiro, sozinha, lavando meu cabelo e tomando um delicioso banho.
Durante todo o pós parto, o que senti de dor foi facilmente resolvido com uma dose de novalgina por dia e, sinceramente, só lembro disso porque registrei num caderninho na época, mas não tenho a memória dessa dor registrada, não mesmo.
Tudo o que lembro foi que o momento do parto foi o momento mais lindo da minha vida!

Não, não é uma apologia ao parto cesáreo. Não o defendo como prática, muito pelo contrário. MAS, ao mesmo tempo, me cansa e me irrita quando as pessoas, em nome da defesa do parto normal, criticam o parto cesáreo como se ele fosse o pior momento da vida de uma mulher. Como se fosse apenas um momento de carnificina. necessário para salvar a vida ou, pior, como sendo sempre um erro médico ou um capricho da mulher. Sim, existem médicos demais fazendo partos cesáreos demais com critérios de menos. Sim, existem mulheres caprichosas demais que simplesmente não querem ouvir falar de parto normal, seja por desinformação ou comodismo. Mas existe uma grande parcela que simplesmente não teve escolha e nunca terá. Existe a parcela que tem que escolher entre a cesárea e o risco real de não viver para ver seus filhos. E essas não merecem ter sus partos igualados a processos cirúrgicos frios e carnificentos.
Essa parcela da população materna que, como eu, precisa encarar a realidade de que um parto normal simplesmente não é uma opção, não merece ter suas emoções desqualificadas em prol de uma causa, mesmo que essa causa seja nobre.
Portanto, antes de criticar a cesárea, antes de dizer que toda cesárea é fria, que uma mulher que pari por cesárea nunca conhecerá o verdadeiro sentimento envolvido no parto, lembre-se que, para a mulher que não tem a opção, o sentimento na cesárea é tão real quanto o sentimento da mulher que ficou horas em trabalho de parto para depois parir seu filho por via vaginal. Lembre-se que a via de parto não muda o sentimento, não faz ninguém ser mais heroína, nem mais mãe, nem mais merecedora de lembranças doces do nascimento de seus filhos.
Faça uma auto-crítica e tente pensar como é irritante para você, que pariu por via vaginal, ter que ouvir asneiras sobre o parto normal, comparando-o a atos animais e arcaícos. Lembre-se de como é desrespeitoso o tratamento que recebem de pessoas que não curtem a onda do parto normal e tentem não reproduzí-lo na direção oposta.
Não tente convencer as pessoas de tentar o parto normal desqualificando a cesárea ou fazendo-a parecer o fim do mundo. Enalteça o que há de bom no parto normal, e há tantas coisas boas. Lembre-se que uma grávida que recebe informações aterrorizantes sobre a cesárea pode acabar precisando de uma e que ela não merece entrar na sala de parto temendo aquilo como teme uma cirurgia cardíaca.
Enfim, o importante é lembrar que o respeito é o melhor amigo da credibilidade!

ps - minha condição de saúde, infelizmente, não me permitirá tentar o parto normal nessa minha segunda gravidez, portanto, não quero transformar essa postagem numa sessão de "seu médico está certo ou errado", é apenas uma reflexão de alguém que sabe que nunca terá um parto normal e que, mesmo assim, está totalmente feliz com sua experiência de parto, passada e futura. Uma reflexão de alguém que pegou todos os limões que recebeu e decidiu que com eles fará sempre deliciosas limonadas! E, quem quiser saboreá-las comigo, seja bem vindo... mas quem não curtir limão, bem, dispenso as críticas sobre a minha receita de limonada, ok?

9 comentários:

  1. ai, mari,

    queria ter escrito este post. eu super defendo o parto normal, acho lindo e tal, imagino como deve ser sentir poderosa a mulher que consegue, mas também não gosto desta desqualificação generalizada da experiência com o parto cesáreo.

    eu também não fiquei amarrada, eu também não tive nenhuma reação com a anestesia, eu também tive um pós-internamento sem dor. na segunda vez, eu subia quatro lances de escada com dois dias de parida.

    não sou tão sensível a ponto de me sentir "cortada ao meio" ou desumanizada mesmo tendo, sim, ficado meio sozinha depois da sutura, me recuperando da anestesia; não sinto a minha experiência como mãe prejudicada por meus filhos não terem ficado no meu colo e nem mamado logo após o nascimento.

    é claro que quando lemos os relatos de parto em casa e os relatos de parto humanizado fica clara a distância em relação às cesarianas em matéria de protagonismo. ficamos, literalmente, nas mãos do médico, ficamos sem controle algum da situação. entramos no protocolo.

    talvez eu tivesse conseguido um normal se eu soubesse tudo que sei hoje quando da minha primeira gravidez (eu queria parir normal e achava que tinha toda informação suficiente!). na segunda, nem cogitamos porque deu um problema no meu sangue e tal.

    acho que precisamos de militância em relação ao parto normal sim, como precisamos de militância em relação à amamentação, pelo bem das nossas crianças. muitas vezes entendo o fanatismo e, juro, não me incomodo com ele, mesmo com dedinhos picantes tentando apertar as minhas feridas (que não tenho!).

    não sinto minha experiência diminuída: foi emocionante mesmo e o parto é apenas o início da história. perderemos o controle sobre a vida dos nossos filhos várias vezes.

    obrigada pela reflexão!

    ResponderExcluir
  2. Eu tive dois partos normais, mas acho o advento do parto cesareo incrivel! Imagine se nao pudessemos ter acesso a ele? Quantas mulheres e bebes teriam morrido? VIVA A TECNOLOGIA!
    Sim, acho um absurdo como a cesarea eh encarada no Brasil: nao como um recurso medico (em muitos casos necessario) mas sim como uma escolha que convenhamos eh comodista (tanto da parte do medico quanto dos pais). Mas as xiitas do parto normal (bem como da amamentacao) se comportam da mesma forma preconceituosa `aquelas que acham que tudo deve ser categorizado no mesmo saco: se vc teve parto cesareo, nao teve a VERDADEIRA experiencia do parto. Maior ladainha! Mesmo aquelas que escolheram ter cesearea nao podem ser desmerecidas da experiencia delas nao eh mesmo? Acho que estah na hora de nos pararmos de julgarmos quem fiez escolhas diferentes das nossas, ia fazer a vida de muita gente bem mais facil, no dificil caminho de se tornar mae.

    Beijos

    ResponderExcluir
  3. O melhor texto que lí nos últimos tempos!!!!
    gostaria de ter tido parto normal, mas não tive tbem pois era uma gravidez gemelar e infelizmente não tive chances nem de chegar ao final das 40 semamnas pois graças a deus meus meninos estavam grndes e tive que fazer a cesárea com 38 semanas, mas não me sinto menos mãe por isso e nem acho que seja um bicho de sete cabeças como pintam por aí!!!
    Só acho chato crucificarem quem fez cesárea e quem não amamentou, eu tentei amamentar mas devidos aos problemas de UTi qdo os meninos nasceram acabei não produzindo leite era tão pouco que não dava nem para um que dirá dois, tbem não faço apologia a fórmula infantil, mas como no meu caso foi a opçao que tínhamos deu certo!Estão os dois com quase três anos, saudáveis felizes e muito amados.
    Bjos
    Ana
    www.amaedosgmeos.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. Eu tbm tive que fazer cesarea,pra ser sincera 3,e na 1ªqueria muito ter parto normal e não pude,e acho muito errado quando dizem que tem que se tentar de qualquer jeito parto normal ou dizer que parto cesarea a mulher deixa de ser mãe,tive sensações maravilhosas nos meus partos e sou sim muito mãe.
    bjos

    ResponderExcluir
  5. Concordo, concordo e concordo!
    Muito obrigada por falar por nós, mulheres que não podem escolher e que são tão menosprezadas.
    Lindo post, parabéns!

    ResponderExcluir
  6. Oi, querida, tudo bem?
    Li seu comentário no meu blog e fiquei bastante surpresa. Em nenhum momento eu desqualifiquei a cesárea. O que contei foi minha experiência. MINHA! E pode ter certeza de que caso precisasse de uma, como você precisou, a faria tranquilamente. Afinal, lutei pelo que quis, mas não tenho o controle das coisas. E já escrevi em meu blog que acho a cesárea linda quando necessária.
    Não sei se entendeu, mas eu fui em busca do meu parto normal pela terrível experiência que tive na cirurgia. Mas certeza de que se precisasse passar por outra para ter minha filha nos braços, passaria.
    Se ler meu blog desde o início verá como cheguei até meu parto domiciliar. Leia que você vai se surpreender, tenho certeza, e entenderá que eu não fico pregando que cesárea é o fim do mundo.
    Acho que a má interpretação do meu post por algumas pessoas está justamente no fato delas não se sentirem bem com o rumo que a vida delas tomou. São mal resolvidas. Tenho uma grande amiga da blogosfera, a Paloma, que teve que passar por uma segunda cesárea e é grande admirado de meus posts. A considero, como a Mari (viciados) uma pessoa muito bem resolvida. Ela entende a gradiosidade dos fatos e sabe separar a experiência dela sem se sentir menosprezada. Acho que o grande lance do mundo virtual é esse. A gente lê os blogs e entende o que quer... a pessoa que escreve não pode se responsabilizar pelo que os leitores vão entender. Não em um blog que a liberdade de expressão respeitosa (considero meu blog bastante respeitoso) impera.
    Fiquei realmente surpresa com seu comentário e não queria que entendesse dessa maneira... mas já foi, por isso a convido a conhecer um pouco mais dessa minha história para entender quem eu sou e ver que não prego nada além da minha experiência.
    Beijos

    ResponderExcluir
  7. Mari,
    Eu tive um pn lindo, humanizado, sem analgesia, mas não sou contra a cesárea! A cesárea é importantíssima quando necessária, salva vidas de mães e de bebês.
    Sou unicamente contra a impossibilidade - ou dificuldade extrema - em se ter um pn no Brasil. Não pode por causa do Streptococcus, cordão umbilical, hemorróidas, lua nova e desculpas sem fim.
    Eu mesma passei pelas mãos de uma que disse que pn servia para matar bebês. É o cúmulo! E contra isso eu luto sim!
    Se a cesárea é necessária, se a mãe quis marcar uma eletiva: ótimo. Tolher a mãe do direito de ter um pn é o que me indigna!

    Beijos

    ResponderExcluir
  8. Querida, obrigada pelo segundo comentário. Te entendo e não te considero mal resolvida, de maneira alguma. Nem quis parecer preconceituosa. Foi apenas minha experiência. Acho que a comparação pode ter sido fria, mas fui o que vivi. E viva a diversidade. Volte sempre ao meu blog e comente sempre que vou gostar.
    Beijos

    ResponderExcluir
  9. Me sinto da mesma forma que você com relação às pessoas que defendem o parto normal, criticando de forma desmedida o cesáreo. Eu planejei e desejei ter parto normal, mas sai de casa para fazer uma ecografia e voltei com minha filha nos braços. Tb tive um parto cesáreo e de urgência em razão das condições da gestação. O líquido aminiótico estva muito abaixo do limite e os batimentos do bebê estavam diminuindo...
    Boa sorte com sua nova gestação e boa hora!!!
    Maura, mamãe da Sophia

    ResponderExcluir