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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O tal do furo na orelha

Não furei as orelhas da Alice quando ela nasceu. Tive vários motivos para isso e não me arrependo nem por um segundo. Antes que me perguntem quais eram os motivos, eu já vou enumerar os principais para me poupar o trabalho futuro.
O primeiro e mais forte motivo foi pediátrico. A vacina antitetânica não seria dada até os 6 meses e eu não via, nem meu pediatra, nenhuma justificativa concreta para abrir uma ferida na orelha da minha filha e expô-la, por vaidade materna, a essa doença. Além disso, eu olho um bebê pequeno e sempre vejo um cabeção com roupinhas pequenas. Com isso eu tinha terror da idéia de ficar botando e tirando roupa com o risco de agarrar na roupa e machucar a pequena. Sem contar que eu, mãe de primeira viagem, tinha MUITA coisa nova para me preocupar e não sentia a necessidade de ter que me preocupar com um brinco, com a possibilidade de puxá-lo por engano num movimento brusco, com a idéia de uma tarrachinha cair e minha filha, acidentalmente, se engasgar na dita, ou pior, no próprio brinco. Finalmente, eu mesma tive a escolha de ter ou não orelhas furadas. Furei as minhas aos 9 anos, por opção. Preferi dar a ela a mesma oportunidade de escolha. As orelhas são dela, não minhas, não me senti no direito de determinar que ela tinha que ter as orelhas furadas.
Não, não estou julgando ninguém e acho que no assunto brincos, cada um sabe o que faz e ninguém tem nada a ver com isso. Da mesma forma que me irritava profundamente ter que ouvir críticas sobre eu não ter furado as orelhas dela quando ela nasceu, não critico quem fura as orelhas de suas filhas nesse momento. Cada um é cada um e, quando não se trata de algo que vá afetar a coletividade, tem mais é que fazer como bem entende! A minha escolha foi essa e meus motivos foram esses... punto e basta.
E então, aos 4 anos, ela me pediu para colocar brincos de orelha furada. Argumentou seus motivos e conversou com o pai. Mostrou-se decidida. Expliquei a ela que doeria um pouco na hora de furar e perguntei se ela tinha certeza de que queria mesmo os brincos. Ela confirmou. Dei a ela uma semana pensando em outras coisas, sem falar no assunto. Mas, no final da semana ela me perguntou claramente: "E, aí, posso furar a minha orelha?"
Então lá fomos nós. Ela decidida e eu com a certeza de que ela tinha feito a sua escolha. Assim que o primeiro furo foi feito, ela puxou um bico e segurou o choro. Eu a tranquilizei, explicando que doia mesmo e que ela poderia chorar a vontade. E as lágrimas rolaram soltas. Eu a abracei, e ela chorou suas grossas lágrimas de dor. Eu me arrependi da minha escolha e avisei para ela que, caso quisesse desistir, poderia, sem problema nenhum. Que poderia também voltar no dia seguinte para terminar a outra orelha. Mas ela ficou firme e disse que iria terminar a outra orelha. Veio o segundo furo e mais lágrimas rolaram, grossas, rosto abaixo. Eu a abracei forte e falei que sentia orgulho de como ela era decidida e madura por ter levado a cabo uma escolha dela. Perguntei se queria ver como tinha ficado.

Com lágrimas rolando ela pulou da maca e correu para o espelho. Olhou de um lado e do outro, sorrindo e chorando. Sentia-se a mais linda do mundo, e estufava o peito para dizer que "doeu muito, mas ficou lindo". Para o registro, abriu um sorrisão, ainda com olhos banhados. Ainda perguntei se ela, sabendo que doeria como doeu, teria, mesmo assim, escolhido colocar o brinco, ela confirmou que sim.
Voltei a ter a certeza de que eu tinha feito a coisa certa. Eu dei a ela a chance de, pela primeira vez na sua curta vidinha, decidir o que queria fazer com o seu próprio corpo. Dei a ela a chance de exercitar sua maturidade plenamente. E ela exerceu, com louvor!
Parabéns, filhota, você está ainda mais linda!

4 comentários:

  1. Que lindo Mari!
    Parabéns pra vocês!

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  2. Legal! Também furei minhas orelhas com cinco anos. Pedi para minha mãe pois na época usava cabelos curtos e me confundiam com menino. Nao sou contra furar ainda bebe, mas se tivesse uma menina acho que esperaria também. Foi como um marco, lembro até hoje do dia em que furei as orelhas, da sensação da orelha latejando e de como eu me sentia importante com aquelas duas pedrinhas vermelhas ( cor que escolhi) brilhando nas orelhas!!
    Parabéns!

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  3. Muito legal! Furei a orelha da minha Bia na maternidade, mas ano passado passei por uma situação igual a sua com o segundo furo! hahaha Engraçado isso que aos 13 anos foi bem parecido!

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